DEIXE QUE VÁ

Antiguidade na minha memória.

Sexta feira quase 00:00...

Ou 11 horas, não lembro direito,

na rua o horário era versátil.

Eu brincava na rua, jogava bola...

Atrás dos aviões não tinha carro,

pra minha sorte,

pra sorte dos que eram iguais,

pra sorte dos que são.

Tudo era regado a Dolly uva, fofura.

Mas deixe que vá!

Eu deixei, sinto saudade...

Não gosto mais de dolly uva, entende?

Deixe que vá.

Na última sexta da quarentena meu celular fazia efeito sonoro de monte, aos montes.

Tem ninguém na minha rua e eu não vou pra rua que tem gente,

amanhã tenho ensaio cedo.

Teria...

Tive!

Mas o show foi adiado,

deixe que vá.

O vírus enfatiza,

Tem coisa que não se pode deixar,

comida tem que tá na mesa.

Esse sonho não cessa,

nem poderia.

O instinto da sobrevivência é o único indivisível,

todos tem,

só muda a camada e a intensidade...

Mas todos tem.

E isso não impede a diversidade de estéticas que a mente cria,

e o corpo reproduz.

As vezes a máquina,

as vezes a onda sonora,

as vezes seu pedaço de pano.

Minha peita não representa esse som,

embora ela represente parte de mim e parte de mim representa esse som.

Não tem corpo indivisível,

tem estética,

tem instinto,

tem dúvida.

Deixa vim.

Deixe que vá...

Estético.