Letras
[Verse 1]
Sombras brotam sobre o chão
Do alto sólido o avião destoa, reflexo
Ondas valsam, convulsão
O mar revolve pedra em grão garoa, conexo
[Verse 2]
Cinco dedos, cada mão
São cinco filhos, quatro irmãos, na soma, convexo
Sinto medo sem razão
Eu cismo tenso em aflição, à toa, perplexo
[Verse 3]
Tudo penso, o pensamento é muito aumento
Escuro o alento que vai lento ali no centro, está dentro e nunca sai
E as crias, a magia, nostalgia, analogia, alegria ficou pra trás
[Verse 4]
Eu vivo com nostalgia e tristeza a lembrança de minha infância
Desconhecido medo e incessante sonho
Ladeados no banho do dia a dia gélido e escaldante
Sexo elétrico em frêmito percorrendo o corpo
[Verse 5]
Rio despencado como catarata do Iguaçu Paulistano
Despencando do hemisfério morte do cérebro azul
Como o sangue de um Reis para o hemisfério cumbilical
Feito avesso de nutrição e fezes
De reza-sopa-de-biblinha mais velocípede-roda-de-pipoca, igual eu
Nas pedras cor de tijolo e muro de canjiquinha
[Verse 6]
O mesmo eu, único de luto no féretro do peixe morto, ex-dourado
Enfiado no caixão, caixinha de fósforo, sepultado no cubocanteiro
Ao lado da capelinha
Dois solenes soldados butijões impávidos a gazôsoluçar
Inaudíveis parcas lágrimas evaporadas em pesar profundo
[Verse 7]
E eu, anelado pelo medo letal
Medo de sempre, o mesmo medo, medo e medo mesmo
De demonstrar o medo, de mostrar ter medo
De chorar por medo, de morrer de medo e dor, medor
[Verse 8]
Secura potável na esponja encharcada do meu pensamento infernal
Do fogo do inverno, com o gozo do inferno, fui parido
Não nasci e, não nascido por não nascer
Fui achado dentro de um coador de pó de café
Jogado numa lata de lixo de metal sem tampa
Pinto no lixo, me refestelei dessa solitária e inusitada condição
[Verse 9]
E as fagulhas, as patrulhas, aleluia, cuia, incúria
Se borbulham o milho, a tulha que debulha
Se ajoelha sobre os soltos pobres grãos
[Verse 10]
Eram sonhos, só sonhos
Era carnaval
Não tem hora pra acabar
[Verse 11]
Ter pais que me deram nome e sobrenome, que me deram paz, país origem
Gens de grãos torrados, moídos, coados, sorvidos da prata manjedoura
Rubrocristo na encruzilhada de querer mas não
Morrer pelos pecados dos outros sem poder pecar os meus
E como pequei!
Essa é a história de um pecador não-cido no lado de baixo do Equador
Brasil, São Paulo capital
Jardim Paulistano, Rua Santa Cristina, 217
Written by: Nando Reis

