Ouça Secret Love Letters de Lisa Batiashvili.
Lisa Batiashvili
Secret Love Letters
Álbum · Música clássica · 2022
Lisa Batiashvili mergulha no tema do amor secreto no álbum Secret Love Letters. “O maior segredo que guardei quando criança estava conectado ao mais forte e profundo sentimento humano: o amor”, conta a violinista georgiana ao Apple Music. “Eu me apaixonei por um garoto de 4 anos no jardim de infância. Meu estômago doía e se revirava quando eu olhava para ele. Fiquei com medo de contar para alguém, até mesmo para a minha mãe. Minha preocupação era que ela ignorasse aqueles sentimentos fortes só porque eu era muito nova.” Lisa canalizou tudo aquilo no seu instrumento e fez dele seu confidente particular, expressando os sentimentos mais profundos pela música.
Em vez de nos mergulhar imediatamente nessa maré turbulenta de desejos reprimidos, aqui, a violinista nos tranquiliza com Violin Sonata in A Major, de César Franck. Escrita como um presente de casamento para o violinista belga Eugène Ysaÿe, a obra de quatro movimentos é, ao mesmo tempo, comedida e emocionalmente irrestrita. Quem acompanha Batiashvili é Giorgi Gigashvili, que ganhou uma bolsa de estudos da Lisa Batiashvili Foundation em 2021. Após a sonata vem o Violin Concerto Nº 1, do compositor polonês Karol Szymanowski. Altamente carregada, a obra expressa, segundo Batiashvili, os sentimentos secretos do compositor por outro homem. Nela, Szymanowski desnuda suas emoções, algumas vezes em um grau quase insuportável. Como diz Batiashvili: “É uma dança entre o erotismo e a compaixão, entre um mundo onírico e a dura realidade.”
Há, também, Poème, obra para violino e orquestra, de Ernest Chausson, que combina perfeitamente com a busca de Batiashvili pelo inexprimível em “todas as suas nuances de amor e beleza”. Já Beau soir é uma curta e comovente peça para violino e piano – este último executado pelo maestro Yannick Nézet-Séguin. As quatro obras satisfazem o tema do amor secreto de Batiashvili, cada uma à sua maneira: sonhador, reflexivo, angustiado e apaixonado. Siga a leitura enquanto a violinista nos guia por cada uma das peças.
Violin Sonata in A Major “Foi a primeira vez que toquei com Giorgi [Gigashvili], mas nos conhecemos já há dois anos, porque ele foi um dos primeiros bolsistas da minha fundação. Ele é um músico muito versátil que não toca apenas música erudita; Giorgi também canta pop e jazz. Quando um talento como o dele é tão óbvio e o desejo em fazer música é tão forte, acredito que essa versatilidade o ensinou a ser espontâneo. Tocar com ele permitiu que eu olhasse para a Sonata como se ela fosse um livro aberto. É o tipo de coisa que pode acontecer quando você encontra um músico: você toca uma peça que conhece bem, mas, de repente, ela se transforma em algo novo. Estávamos na mais perfeita sintonia.”
Violin Concerto Nº 1 “Toquei esta música pela primeira vez em 2018 e me apaixonei. Tocá-la me trouxe uma sensação incrível. Sua sensualidade e suas cores e emoções extremamente interessantes eram novidade para mim. Quando soube que Szymanowski dedicou a obra ao seu amigo Paweł Kochański, que escreveu a cadenza, me dei conta de que tinha muita paixão e muito amor secreto expressos ali. A música é uma explosão de emoções. Em alguns momentos, o violino fica muito agudo, como se fosse uma voz muito sensual cantando sobre um imenso e orquestral tapete de som. Em outro lugar ali no meio, e também no fim, é uma habanera. Amor e dança juntos! Precisamos celebrar o amor, principalmente nestes tempos terríveis, e a música é a linguagem que pode fazer isso.”
Poème “Embora não seja virtuosa, Poème é uma peça complicada de tocar com uma orquestra. Ela transborda cores e emoções, mas o solista e a orquestra devem estar sempre juntos. Como Szymanowski, Chausson teve ajuda de um violinista, Eugène Ysaÿe, para compor a peça. Esses violinistas foram muito importantes para os dois compositores, os ajudaram a enxergar o que era musicalmente possível e o que soava melhor. Não acho que seja possível escrever uma peça para um solista se você não consultar uma pessoa que poderá dar uma visão especialista sobre o instrumento. Quando você toca uma peça que foi obviamente dedicada ou composta para um solista – que, inclusive, contribuiu para a obra –, é uma experiência completamente diferente para o intérprete.” Beau soir “É uma peça bastante intimista e também traz outra faceta do tema do álbum, sobre o amor não declarado e inexplicável. Eu tinha planejado gravar diversas peças de Debussy com Yannick, mas, no fim, fizemos só esta. Felizmente, é uma linda ‘música’. Debussy é um dos meus compositores favoritos, que oferece uma liberdade de expressão fantástica, embora com indicações de partitura bastante precisas. Eu já tinha tocado e gravado com Yannick. Ele é um dos grandes maestros do nosso tempo e consegue – como Simon Rattle e Daniel Barenboim – escutar tudo e, ao mesmo tempo, enxergar o todo. Ele traz ideias incríveis para a mais curta das peças.”

Mais álbuns de Lisa Batiashvili

instagramSharePathic_arrow_out