Ouça Clara & Robert Schumann: Piano Concertos de Beatrice Rana.
Beatrice Rana
Clara & Robert Schumann: Piano Concertos
Álbum · Música clássica · 2023
Demorou bastante tempo para que a música do casal de compositores Clara e Robert Schumann andasse de mãos dadas. Por mais de um século, a obra de Clara (que morreu em 1896 e também era pianista e mãe dos filhos de Robert) foi considerada uma nota de rodapé diante da produção do marido. Este álbum de Beatrice Rana restabelece o equilíbrio entre a música do casal e cumpre um papel importante no resgate do Piano Concerto Nº 1 de Clara.
“Hoje eu me interesso muito pelo Concerto de Clara, mas durante alguns anos eu tive dúvidas em relação a ele”, admite a pianista italiana. “Eu sabia que ela tinha sido a musa de Robert e uma excelente pianista de concerto, é claro. Mas, quando me pediram para tocar o concerto, comecei a estudar a obra e percebi que ela é muito bonita e revolucionária.” E Rana também descobriu que a obra não havia sido gravada por nenhum grande pianista. “Percebi que tinha muita coisa a ser feita.”
Clara compôs este Concerto quando ainda era adolescente. Ele foi desenvolvido a partir de uma obra com um só movimento e estreou em 1835 com Clara ao piano, sob regência do compositor Felix Mendelssohn. Ao lado do concerto mais conhecido do seu futuro marido, também em lá menor, a obra soa nova e instintiva. À primeira vista, a impetuosidade da jovem Clara pode parecer exibicionista e superficial, mas a qualidade das suas ideias logo fica evidente nas mãos de Rana, que explora a profundidade da obra, sob direção de Yannick Nézet-Séguin. “Existe uma concepção equivocada de que o Concerto de Clara é algo bem-comportado e agradável. Definitivamente não é o caso. É uma obra intensa, com muitos contrastes.”
Isso também vale para o Piano Concerto de Robert Schumann, a segunda obra do álbum, originalmente uma composição com um movimento, como a peça de Clara. O concerto estreou em 1845, quando Schumann tinha 35 anos, e é evidentemente a obra de um compositor maduro, mas que faz referências ao Concerto da sua jovem esposa. Por exemplo, o motivo de quatro notas que ele pegou dela para a coda do primeiro movimento e o uso de um episódio lento em lá bemol para unir duas seções do mesmo movimento. Mas o que mais chama a atenção é o diálogo entre violoncelos e o solista no segundo movimento, que remete ao dueto intimista de piano e violoncelo no concerto de Clara, além da maneira como esse mesmo movimento leva ao final sem interrupção.
As semelhanças terminam aí. O Concerto de Robert tem uns dez minutos a mais e é consideravelmente mais desafiador para o pianista, principalmente na interação com a orquestra. “Nenhum concerto para piano exige uma troca tão intensa como este”, diz Rana. “Fiquei contente por gravar com Yannick, porque ele é um músico que tem muito a ver comigo. Por exemplo, não é fácil encontrar um maestro que consiga entender e interpretar as minhas ideias em relação ao terceiro movimento, geralmente considerado um movimento apenas alegre, mas que acredito ter muita poesia. Felizmente, Yannick consegue. É inspirador ter alguém que supera todas as dificuldades para que a gente possa se concentrar na música.”
As ideias de Rana sobre Robert e Clara se revelam na escolha da última obra do álbum: o arranjo de Liszt para a canção “Widmung” (“Dedicação”), de Robert Schumann. “Como eu conheço o poema que Schumann adaptou, fez muito sentido para mim interpretar essa peça no final do álbum”, diz Rana. “O texto de Rückert é bastante revelador da relação entre Robert e Clara e fala sobre um amor tão incrível que desperta nos dois o ‘mein bess’res Ich’, meu melhor eu.”

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