Contradança

dançar nu em casas vazias

primeiro sozinho

depois tirar os ossos para dançar

ocupar toda a casa

emular com ombros pelves omoplatas

as primeiras mobílias

os futuros apoios

em que você vai se sentar

e descobre um menino rindo

escondido num canto

será esse o dia em que você

? ou eu ? talvez possa ver de relance

primeiros os escombros depois as ruínas

a umidade da futura ruína que a casa é

vai nos fazer suar e quem sabe

nos perguntaremos

se saúde não é deixar o mel evaporar

destelhar a casa

esperar que chova uma poção curativa

para amenizar o coração dos homens

ou escrever insistentes enjoativos poemas

com a palavra coração coração coração

até o dia em que nossas línguas falem

um esperanto absurdo

em que todas as palavras digam coração

e não precisemos mais destas

(Marcus Groza)