Inteligência de Mané Cabelim

INTELIGÊNCIA DE MANÉ CABELIM

Marrapaz! Eu tô aqui matutando:

O diabo tem escritório de advocacia em toda parte.

Ontem, na sinuca de Mané Rosário, eu tava numa roda de conversa que só tinha macho, feito feira de cavalo. O assunto era: uma dona que traiu o marido, e o boato, filmado, vazou pra internet abrindo uma rosca sem fim.

Nisso, pra rimar, chega Mané Cabelim. Saliente que só bico de chaleira, escolhendo um de nós (que eu imagino), que era pra dar aquela velha facada de dinheiro emprestado, e ele ainda veio cantando:

“uni-duni-tê-o-escolhido-foi-vo-cê”, e apontou pra mim.

Eu, que sou grosso que só porta de igreja, olhei pra ele e disse:

– Não fale nada não! Eu sei quem tu sois, e já sei mais ou menos do que se trata! Tu não me engana mais não, Mané Cabelim!

Olhe: No mundo existem quatro tipos de homem:

Homem

Hominho

Engana-calça

E ladrão.

E tu sois os dois últimos, Cabelim duma figa!

Aí ele veio com uma conversa, colado em mim, e abotoando o botão da minha camisa:

– Ehh! Porque num-sei-quê!... Porque eu vim lhe convidar pra ser sócio investidor - meu e da minha esposa - num projeto de Inteligência Artificial das emoções!

Marrapaz! Eu tive que escutar, porque se não tivesse quem escutasse, não havia quem falasse. Aí eu disse de arrancada:

– Solte o botão da minha camisa!?

Aí ele soltou e eu emendei:

– Olhe: eu sou virgem de sociedade

Sou virgem de confusão

Virgem do artificial

Virgem das coisas do cão,

E se o cão disser: vambora!

Eu digo em riba da hora,

Virgem Maria! Vou não!

Aí ele pediu pra falar, e disse:

– Ehh! Porque a novidade mais novidadiosa do momento é a Inteligência Artificial. E nós - eu e minha esposa - vamos empreender na “IAA”, que quer dizer Inteligência Artificial do Adultério, para ajudar as pessoas vítimas de adultério, no lado emocional.

 

Marrapaz! Eu dei uma pegada de ar tão virada num dindin, porque aí não tá com mulesta não, rapaz!

Aí eu disse:

– Só se essa novidade for novidadiosa pra tu. Por quê? Porque derna do tempo do cu-quadrado, o mundo inteiro sabe que tu leva chifre daquela muzenga, e ela ainda quer te fazer procurador geral da emoção dos corno, Mané Cabelim?

E disse mais:

– Aquela sujeita, que já nasceu camuflada de traíra, não engana ninguém não. E olhe o que diz a sabedoria:

Mulher dos quarto de jia

E pote que não esfria

Credo em Cruz Ave Maria!

Será o impossível que tu não vê que a maior função que tu já assumisse na vida foi acendedor de cachimbo de bruxaria e guia de cego em estrada nova, e tu ainda vem me chamar pra ser sócio em serviço de corno, Mané Cabelim?

Bota na tua cabeça que existem três coisas que não se esconde:

tosse, febre e par de chifre. E tu quer esconder essa tosse, essa febre-tifo de corno e essa cangaia que vive monumentada na tua testa, fí duma quinhenta!

Tu sabe muito bem que nesse triângulo eu não me esquadro. Inda mais, junto com aquele buzubaite de esposa que não vale um bochecho d\'água, e agora, por cima, quer dar o migué no artificial da inteligência?

 

Só se eu passei sebo de cururu viúvo no juízo, pra merecer uma carreira sebosa dessa!

Aí ele ficou da cor de cristão arrependido, aí eu inventei:

– Eu sei que tu estás necessitado de aparecer. Sabe o que é que tu pode fazer? Tu pega tuas iniciais de Mané Cabelim, MC, e entra nesse tal de hip-hop como MC-Cabelim.

Aí sim! Tu vai encher o cu de dinheiro, vai viver cheio de ouro nos dedo e no pescoço e se amostrar com todo tipo de dança e de roupa inventada.

Marrapaz! Pois tu acredita que o feladaputa deu o maior ponto à minha ideia?

Aí eu pensei cá comigo: home, que saber de uma coisa? Eu vou-me embora porque quem vai terminar dançando e cantando sou eu.

Sou eu, que dou liberdade àquele fi de rapariga do Mané Cabelim, e eu não falo mais nele não.