Beira-fogo

Guardas tantas pedras no bolso

Que tens a história escrita no osso

Para ver quem te despir

Vontade e medo de sorrir

Tens a história tão bem guardada

Nem te lembras dela contada

Já não sabes não esconder

Vives para anoitecer

E quando a noite não for escura

Diz-me o que vais fazer

Quando o céu não der cobertura

E for só um espelho a tremer

Estarei por perto e com frio

Precisando de me aquecer

Querendo sono contigo

Mais do que todo o prazer

Vais, veloz, por quaisquer veredas

Sem mondar dos males as medas

Eu ainda sei quem tu és

Beira-fogo de lés a lés

E não é por beberes a bruma

Que a água deste mundo se arruma

Mágoa miúda vai sobrar

Na pele para condensar

E quando o peso do teu rosto

Por fim tiver de cair

Com a tristeza, a ternura

As tintas do tempo, enfim

E quando toda a medida da vida deixar de servir

Guia-te pelos vestígios do meu amor

Estão por aí