Um Quadro de Campo

Um quadro de campo

Um mate de manhã cedo

Alcançado em gesto franco

Um pingo que ganha as garras

Pra uma campereada ao tranco

Uma garça no horizonte

Ostentando um pala branco

O sol pedindo serviço

Moldando um quadro de campo

Um galo que afina a goela

Avisando que hay pegada

Um andu rondando o ninho

Zelando pela ninhada

Um barreiro em matrimônio

Alicerçando a morada

Quando canta o quero quero

Faz a gente olha pra estrada

Campereada de janeiro

Recorrida de banhado

Num pingo mando de arreio

Por natureza domado

Um laço estilo canhoto

Com as rodilhas do outro lado

Batendo o guizo da argola

Roçando o pelo molhado

Um potro em ponto de doma

Da raça que corcoveia

Mal de baixo e caborteiro

Num prenuncio de peleia

Que ao se “trompa” com um vaqueano

Compreende corda e maneia

E depois de alguns galopes

Masca o bocal e troteia

Um bagual que se arrocina

Pelos fundões de invernada

Um pealo de toda a trança

Pro sapucay da peonada

Poncho negro que se abre

Contra a chuva galopeada

Minuano que se levanta

Sentindo ciúmes da geada

O dia fechando os olhos

Logo após o sol se por

Trazendo a cabresto a lua

Um candeeiro em esplendor

Não acredito que alguém

Com sentimento e valor

Possa dizer que este quadro

É órfão de criador