Inverso

Na bagagem levo-te a ti,

Uma miragem em foto eu vi.

Pelo crivo da memória,

Arquivo-te como uma história sã.

Não me acenes na rua,

Minha alma está fria e crua vai.

Do outro lado do passeio,

Afasta o receio e a pena de mim.

Sê criança no recreio,

Esquece o meio e vê-me a passar assim.

Cada pinga de suor escorrido,

Não chega para controlar.

Quando a vinda de um rancor esquecido,

Não chega para controlar.

E se a chuva cai,

O abrigo é para mendigo.

Se da urna vai,

O destino é inimigo.

E não tentes mais prender-me em teu redor,

O chão foge, a corda sobe sem pudor.

Quem eu era já foi teu demais amor!

Do outro lado do passeio,

Afasta o receio e a pena de mim.

Sê criança no recreio,

Esquece o meio e vê-me a passar assim.

Cada pinga de suor escorrido,

Não chega para controlar.

Quando a vinda de um rancor esquecido,

Não chega para controlar.

Porque apareces à minha frente assim de repente,

Encontras o meu olhar no meio de tanta gente.

Observo o horizonte porque nisso sou perito,

E consigo desviar-me de um amor que era infinito.

Já disse pára de me sinalizar,

Não é porque ache que me estás a incomodar.

Mas perdes tempo por pena ou caridade,

Ou apenas para alimentar a tua vaidade.

Não a inteligência nem a personalidade,

Que variam em sentido inverso á tua idade.

Pareces comprada numa loja de chineses,

E eu não gosto de ler o mesmo livro duas vezes.

Do outro lado do passeio,

Afasta o receio e a pena de mim.

Sê criança no recreio,

Esquece o meio e vê-me a passar assim.

Cada pinga de suor escorrido,

Não chega para controlar.

Quando a vinda de um amor esquecido,

Não chega para controlar.