manual de instruções (feat. Pedro Abrunhosa)

Durmo com a luz acesa, resolvo tudo à conversa

Se ligares eu vou depressa, mesmo a não falarmos há dez dias

Há dez dias

Nunca penso no que digo, mas digo tudo o que penso

Nunca duvido, eu confio, mas as palavras são só isso

E com elas vêm mentiras que só eu não descodifico

É complicado lidar comigo

Eu já aviso antes, ouve o que eu te digo

Se deres um passo em frente p'ra vires ter comigo

Vais ler um sinal a dizer que é zona de perigo

Não percas tempo, não percas tempo comigo

Que se vieres a pé tu vais voltar sozinho

Eu sou intensa, desatenta, vivo em pressa de alcançar aquilo que aparece à noite

E, deitada, imagino

Não percas tempo, não percas tempo comigo

Que se vieres a pé tu vais voltar sozinho

Eu deixo antes de ser deixada, emocionalmente acabada

Desculpa se eu saí sem deixar nada escrito

Desculpa se eu saí sem deixar nada escrito

Pedes-me um momento (Ai, ah)

E um momento é quanto tempo?

Agarras as palavra (Ai, ah)

É preciso um manual de instruções p'ra lidar comigo (Ah)

Ser artista não é querer estar na moda

É olhar à roda e ver o mundo inteiro, ser verdadeiro

Não é olhar p’ra fora enquanto não se olha para dentro

Não ser cinzento, não ser perfeito, bem-vestido ou requintado

Mas trazer o bem ao peito

É ser inteiro, ser imperfeito, delicado, por vezes desafinado

E daí?

Não é o quadro estar perfeito que faz a obra ter sentido

É sentir no ventre o filho

É correr contra o destino, onde todos estão sentados

É fazer o pino, ser desalinho

Viver o perigo de ser fora do baralho, ser artista dá muito trabalho

É ser chão, ser emoção, ser coisa nenhuma

O artista, quando morre, não se esfuma

Torna-se vida na voz de quem fica, que coisa bonita

Na tua voz, Rita

Na voz das pessoas, nessa paz que entoas

És manual de emoções e isso é tanto

Não há manual de instruções que explique esse espanto

Ser artista, que coisa bonita

Obrigado, Rita