Quem me acende a voz

Quem guarda o rio?

Quem me aguarda se o passar?

Quem rebate a deriva?

Quem me estiva a carga má?

E quem dita?

Quem tem dedos tão verbais?

Quem por prosa infinita

Escreve a vida, lavra as leis?

E quem me acende a voz?

Quem? Quem? Quem me acende a voz?

Quem? Quem? Quem me acende a voz?

Quem tem o poder de atear um fogo do nada?

E quem por fogo,

Quem por dentes, quem por paus?

Quem me arranca do restolho?

Quem me ceifa instintos maus?

Quem me vinga?

Quem se irá vingar de mim?

Quem tem mó pra o meu joio

Quem põe termo a todo o fim

E ainda me acende a voz?

Quem? Quem? Quem me acende a voz?

Quem? Quem? Quem me acende a voz?

Quem tem o poder de atear um fogo do nada?

Quem põe canto nos meus lábios?